Conflito

Neste painel, tentamos elencar alguns dos conflitos do território, disputas que se dão em nome do controle do território por parte do governo do estado e do município. A ideia de reunir essas diferentes dinâmicas aqui é podermos ver que todas são parte de uma política única em nome de uma visão militarizada e higienista da cidade.



Fluxo Cracolândia

O “fluxo” é uma forma política de nomear e compreender a região central de Campos Elíseos/Santa Ifigênia, em São Paulo, que historicamente foi rotulada como “Cracolândia”. Esse termo, além de estigmatizar e desumanizar quem vive e circula ali, reduz uma realidade muito mais rica e complexa. Ao falarmos em fluxo, deslocamos o foco da visibilidade do consumo e do tráfico de drogas para a mobilidade cotidiana: pessoas, afeto, história e formas diversas de presença que atravessam o lugar.

Nas últimas semanas, no entanto, o fluxo está sob intenso cerco. Relatórios recentes apontam operações policiais com uso de violência e dispersão — envolvendo uso de cães, ações da Guarda Civil e identificação facial — que espantam pessoas em situação de vulnerabilidade e as obrigam a migrar para outras áreas do centro, como Bom Retiro, Marechal Deodoro e Avenida Paulista. As autoridades mentem mencionando as ações como apoio social, enquanto especialistas e ativistas do bairro afirmam que se trata de despejo forçado, parte de estratégias de higienização urbana e gentrificação que priorizam a especulação imobiliária, enquanto invisibilizam trajetórias de vida e formas de resistência

Esse site surge para tensionar as narrativas oficiais que pintam o fluxo como “problema” e insistem em apagar tanto pessoas quanto histórias. Nosso objetivo é documentar os múltiplos modos de vida presentes — projetos culturais, redes de solidariedade, disputas cotidianas e formas de produção urbana — e visibilizar aquilo que vem sendo silenciosamente sacado do centro da cidade. Aqui, o fluxo é um território em disputa, palco de conflitos estruturais, mas também de persistência, sociabilidades e criação — inclusive sob ataques e nas sombras do apagamento imposto.


Concurso Sede do Governo do Estado

Há mais de 20 anos que se prospecta a vinda do governo para o centro, em um discurso de aproximar o poder público do “povo”. Hoje, esse discurso é usado pelo governo com o intuito de higienizar a região, que hoje é configurada por muitas dinâmicas , dentre elas a dita “Cracolândia” e a favela do moinho. No ano passado foi realizado um concurso para a nova sede do governo que pretende botar a baixo X quadras da porção central dos Campos Elíseos para abrigar secretarias das quais a maioria já atuam no centro, e para além disso não vão realmente trazer o governador, que vai continuar no Morumbi.

Ou seja, a questão é muito clara, um conflito de narrativas. Com uma mentira bem contada pretendem desmanchar todas as dinâmicas do local para transformar a região em uma praça dos três poderes paulista.

M2 SERVIÇOS DE ARQUITETURA E ENGENHARIA
ESCRITORIO METROPOLITANO DE ARQUITETURA
CARLOS C. ARCOS ETTLIN ARQUITETURA
TRIADE SERVICOS DE ARQUITETURA E CONSTRUCAO
NZO ARQUITETURA
BORELLI E MERIGO ARQUITETURA E URBANISMO
DANILO PENNA ARQUITETOS ASSOCIADOS
ROBERTO LOEB ARQUITETURA E URBANISMO
GABRIEL JOHANSSON AZEREDO ARQUITETURA, URBANISMO E COMPUTACAO GRAFICA
MAKHOHL ARQUITETURA
GUSTAVO PENNA ARQUITETO & ASSOCIADOS
STUDIO ARTHUR DE MATTOS CASAS ARQUITETURA DESIGN
GRIFO ARQUITETURA
JACOB, ASSIZ E ANNUNZIATO ARQUITETURA E DESIGN
TERAZAKI ARQUITETOS ASSOCIADOS
ARCHITECTS OFFICE SP
ANDRE R LANDINI ARQUITETURA E URBANISMO
CONSóRCIO ESTúDIO 41 + PAGUS + ATELIER 01
DRUCKER ARQUITETOS ASSOCIADOS
SPADONI E ANDRADE ARQUITETOS ASSOCIADOS
ARQUITETURA LINDGREN
EFFECT ARQUITETURA E GERENCIAMENTO
MMBB ARQUITETOS
CONSóRCIO NATUREZA DO CENTRO
AFLALO & GASPERINI ARQUITETOS LTDA
J.V.SUPLICY NETO ARQUITETURA SC LTDA
MCAA ARQUITETOS LTDA
N&C ARQUITETURA E CONSULTORIA - EPP
JLM SOCIEDADE DE ARQUITETOS LTDA
B+K ARQUITETOS ASSOCIADOS
ARGIS ARQUITETURA SS
MENDES E PREVEDELLO ARQUITETURA E ENGENHARIA LTDA
OPERA QUATRO ARQUITETURA LTDA
AURION ARQUITETURA E CONSULTORIA LTDA
PRA GERENCIAMENTO E CONSTRUÇÃO LTDA
SIDONIO PORTO ARQUITETOS ASSOCIADOS LTDA
CIRO PIRONDI ARQUITETOS ASSOCIADOS
GRUPOSP ARQUITETOS LTDA
ANDREONI DA SILVA PRUDENCIO
CONSÓRCIO MARTINI, NIEMEYER E NASCIMENTO
FB ARQUITETURA E DESIGN DE INTERIORES LTDA
NV ARQUITETURA EIRELI
GRAZIOSI & DE CAMILLO ARQUITETOS
ANDRADE MORETTIN ARQUITETOS ASSOCIADOS LTDA.


Favela do Moinho 

A Favela do Moinho, localizada na região central de São Paulo, entre os bairros de Campos Elíseos e Santa Cecília, é um dos últimos redutos de habitação popular no centro da cidade. Sua história começa nos anos 1980, quando famílias sem acesso à moradia formal começaram a ocupar um antigo terreno ferroviário abandonado, que pertenceu à Companhia de Estradas de Ferro Sorocabana. O espaço, marcado por galpões industriais e escombros do antigo Moinho Giesche (daí o nome), foi sendo transformado em lar por centenas de pessoas em situação de vulnerabilidade.

As lutas da Favela do Moinho se intensificaram a partir dos anos 2000, diante das pressões da especulação imobiliária e da tentativa sistemática de remoção por parte do poder público. A região é considerada estratégica para o mercado imobiliário, o que gera forte interesse em “liberar” a área para novos empreendimentos. Os moradores, porém, sempre resistiram. Em 2008 e 2011, grandes incêndios destruíram dezenas de casas na favela, em episódios que até hoje levantam suspeitas de serem provocados criminosamente, dada a recorrência de incêndios em favelas localizadas em áreas valorizadas.

Atualmente, em 2025, a Favela do Moinho enfrenta mais uma tentativa de remoção. A prefeitura de São Paulo, sob o argumento de revitalização urbana e segurança, voltou a pressionar pela desocupação da área. O projeto prevê a construção de habitação de interesse social em outro local, mas sem garantia de permanência das famílias que ali vivem há décadas. A proposta ignora a importância histórica, afetiva e social do território construído pelos próprios moradores.
 
Acompanhe a luta dos moradores da Favela do Moinho na página do Instagram: @faveladomoinho

Imprensa


Entenda o que a imprensa está falando sobre a o território: 
[clique no título de cada notícia e acesse-a na íntegra]


Governo Lula diz que concessão do terreno da Favela do Moinho est á condicionada à garantia de moradia; gestão Tarcísio critica posturaMoradores da Favela do Moinho protestam contra violência de operação policial na Cracolândia'Bunker do PCC' na Cracolândia, favela do Moinho deve ser removida para dar lugar a nova estação de tremSP: nova sede do governo vai remover 600 famílias do centro até fim de 2026Nova sede do governo de SP irá custar R$ 4,7 bilhõesMP denuncia 'dono' da Favela do Moinho e outros 24 por ferros-velhos do PCC na CracolândiaPrefeitura de São Paulo quer remover favela que fornece drogas para CracolândiaEntidade critica uso da Guarda Civil em ações na CracolândiaO que está por trás da remoção da Favela do MoinhoFavela do Moinho protesta contra a PM: 'chega de violar os direitos humanos'Cracolândia: nova ação desastrosa de governo e prefeitura espalha usuários pela cidade e viola Direitos Humanos
Ação de “lei e ordem” na Cracolândia vai contra programa da prefeitura e não funciona, diz procurador

Polícia no comando da Cracolândia não resolve problema, afirma promotor de Justiça
Ações do Poder Público na Cracolândia preocupam, diz defensora públicaJustiça de SP proíbe Guarda Civil de dispersar pessoas na Cracolândia
Cracolândia sumiu? O que se sabe da dispersão de principal ponto do 'fluxo' em SPFavela do Moinho: destino do centro de SP vira alvo de disputa políticaUnião paralisa cessão de terreno da Favela do Moinho ao governo de SP após questionar uso da força policial contra a populaçãoMoradores e PMs entram em confronto na Favela do Moinho em SPPrefeitura avalia construir praça na Cracolândia, em São Paulo; veja mapa 
PM e GCM usam sirenes para dispersar usuários e evitar novas aglomerações na CracolândiaDe uma cracolândia esvaziada a um centro desmontado: portaria acelera remoções em SPGoverno e prefeitura planejam novos prédios de moradia na antiga cracolandia
"Nunca é expulsar mas atrair outros grupos" diz ativista de transformações em Nova York sobre cracolândiasPrefeitura de SP diz que vai construir conjunto habitacional em terreno onde ficava o 'fluxo' da Cracolândia
PM e GCM usam sirenes para dispersar usuários e evitar novas aglomerações na Cracolândia Prefeitura avalia construir praça na Cracolândia em São Paulo; veja mapa Após dispersão de usuários, Nunes e Tarcísio preparam anúncio de prédios e praça na Cracolândia; teatro seria removidoRelatório aponta que Silo, símbolo da Favela do Moinho, está em ruínas Governo Lula suspende cessão de terreno da Favela do Moinho ao estado de SP Favela do Moinho amanhece com tropa de choque da PM, mesmo após União suspender cessão da área ao governo de SP Longe do centro, moradores da Favela do Moinho falam sobre desafios do recomeço em imóveis financiados pela CDHU PM e manifestantes entram em confronto na região da Favela do Moinho em SPGoverno federal ordena paralisação de ação da PM na Favela do Moinho em SPMoradores da Favela do Moinho se revoltam contra demolição de casasFavela do Moinho: Tarcísio mantém demolição apesar de Lula suspender a cessão do terrenoCracolândia esvaziada, a um centro desmontadoPM e GCM usam sirenes para dispersar usuários e evitar novas aglomerações na Cracolândia Prefeitura avalia construir praça na Cracolândia em São PauloDocumentário do BDF sobre Cracolândia retrata coletivos que são “pedra no sapato” da política higienista no centro de SPCracolândia sumiu? O que se sabe da dispersão de principal ponto do 'fluxo' em SP
Destino do centro de SP vira alvo de disputa políticaUnião paralisa cessão de terreno da Favela do Moinho ao governo de SP, após questionar uso da força policial contra a populaçãoMoradores e PMs entram em confronto na Favela do Moinho em SP (Nota oficial) Situação da Favela do Moinho

Visita

Entre os dias 12 e 15 de maio, estivemos na Favela do Moinho. Lá, testemunhamos de forma clara a discrepância entre o que a mídia divulgava e a realidade vivida pelos moradores — uma disputa de narrativas que se materializava no espaço. Enquanto os noticiários apresentavam a situação como uma operação policial contra o tráfico, o que vimos foi uma ação brutal e desproporcional contra famílias e sua legítima resistência. 

Ao chegarmos na segunda-feira, dia 12/05, às 14h, vimos moradores se manifestando em defesa de suas próprias casas, enquanto a polícia militar, tropa de choque e polícia civil se reuniam na única entrada da favela, já que esses já haviam murado e cercado outros acessos ao território. Os moradores estavam ilhados. 

Durante esses dias, estivemos ao lado dos moradores na maior parte do tempo e pudemos presenciar o terror instaurado. Havia momentos de aparente calmaria, como em uma cidade do interior: as pessoas se cumprimentavam, conversavam, tentavam manter alguma normalidade. Mas, de repente, tudo começava novamente. A polícia invadia a comunidade, e corríamos junto aos moradores por entre os estreitos caminhos, guiados por quem os conhecia.

Presenciamos a assustadora força militar do Estado. 

Trabalhadores eram presos, deputadas e advogadas eram coagidas — tudo isso como resposta a uma manifestação por um direito básico: o de morar. Famílias que viviam ali há mais de 30 anos, muitas das quais investiram mais de cem mil reais em suas casas, lutavam por dignidade. A resposta do Estado era uma tropa de choque que mais parecia saída de um filme: brutamontes vestidos com armaduras, rostos cobertos por balaclavas e escopetas em punho.  Chegavam em caminhões blindados de até quatro metros de altura, como se estivessem indo para uma guerra — contra cidadãos.

Veja as fotografias tiradas por Laila Klajmic durante a visita abaixo: 


v