Território em disputa
Fluxo Cracolândia
Nas últimas semanas, no entanto, o fluxo está sob intenso cerco. Relatórios recentes apontam operações policiais com uso de violência e dispersão — envolvendo uso de cães, ações da Guarda Civil e identificação facial — que espantam pessoas em situação de vulnerabilidade e as obrigam a migrar para outras áreas do centro, como Bom Retiro, Marechal Deodoro e Avenida Paulista. As autoridades mentem mencionando as ações como apoio social, enquanto especialistas e ativistas do bairro afirmam que se trata de despejo forçado, parte de estratégias de higienização urbana e gentrificação que priorizam a especulação imobiliária, enquanto invisibilizam trajetórias de vida e formas de resistência
Esse site surge para tensionar as narrativas oficiais que pintam o fluxo como “problema” e insistem em apagar tanto pessoas quanto histórias. Nosso objetivo é documentar os múltiplos modos de vida presentes — projetos culturais, redes de solidariedade, disputas cotidianas e formas de produção urbana — e visibilizar aquilo que vem sendo silenciosamente sacado do centro da cidade. Aqui, o fluxo é um território em disputa, palco de conflitos estruturais, mas também de persistência, sociabilidades e criação — inclusive sob ataques e nas sombras do apagamento imposto.
Concurso Sede do Governo do Estado
Ou seja, a questão é muito clara, um conflito de narrativas. Com uma mentira bem contada pretendem desmanchar todas as dinâmicas do local para transformar a região em uma praça dos três poderes paulista.
Favela do Moinho
As lutas da Favela do Moinho se intensificaram a partir dos anos 2000, diante das pressões da especulação imobiliária e da tentativa sistemática de remoção por parte do poder público. A região é considerada estratégica para o mercado imobiliário, o que gera forte interesse em “liberar” a área para novos empreendimentos. Os moradores, porém, sempre resistiram. Em 2008 e 2011, grandes incêndios destruíram dezenas de casas na favela, em episódios que até hoje levantam suspeitas de serem provocados criminosamente, dada a recorrência de incêndios em favelas localizadas em áreas valorizadas.
Atualmente, em 2025, a Favela do Moinho enfrenta mais uma tentativa de remoção. A prefeitura de São Paulo, sob o argumento de revitalização urbana e segurança, voltou a pressionar pela desocupação da área. O projeto prevê a construção de habitação de interesse social em outro local, mas sem garantia de permanência das famílias que ali vivem há décadas. A proposta ignora a importância histórica, afetiva e social do território construído pelos próprios moradores.
Acompanhe a luta dos moradores da Favela do Moinho na página do Instagram: @faveladomoinho
Imprensa
Entenda o que a imprensa está falando sobre a o território:
[clique no título de cada notícia e acesse-a na íntegra]
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Visita
Entre os dias 12 e 15 de maio, estivemos na Favela do Moinho. Lá, testemunhamos de forma clara a discrepância entre o que a mídia divulgava e a realidade vivida pelos moradores — uma disputa de narrativas que se materializava no espaço. Enquanto os noticiários apresentavam a situação como uma operação policial contra o tráfico, o que vimos foi uma ação brutal e desproporcional contra famílias e sua legítima resistência. Ao chegarmos na segunda-feira, dia 12/05, às 14h, vimos moradores se manifestando em defesa de suas próprias casas, enquanto a polícia militar, tropa de choque e polícia civil se reuniam na única entrada da favela, já que esses já haviam murado e cercado outros acessos ao território. Os moradores estavam ilhados.
Durante esses dias, estivemos ao lado dos moradores na maior parte do tempo e pudemos presenciar o terror instaurado. Havia momentos de aparente calmaria, como em uma cidade do interior: as pessoas se cumprimentavam, conversavam, tentavam manter alguma normalidade. Mas, de repente, tudo começava novamente. A polícia invadia a comunidade, e corríamos junto aos moradores por entre os estreitos caminhos, guiados por quem os conhecia.
Presenciamos a assustadora força militar do Estado.
Trabalhadores eram presos, deputadas e advogadas eram coagidas — tudo isso como resposta a uma manifestação por um direito básico: o de morar. Famílias que viviam ali há mais de 30 anos, muitas das quais investiram mais de cem mil reais em suas casas, lutavam por dignidade. A resposta do Estado era uma tropa de choque que mais parecia saída de um filme: brutamontes vestidos com armaduras, rostos cobertos por balaclavas e escopetas em punho. Chegavam em caminhões blindados de até quatro metros de altura, como se estivessem indo para uma guerra — contra cidadãos.
Veja as fotografias tiradas por Laila Klajmic durante a visita abaixo: