Fluxo Cracolândia

O “fluxo” é uma forma política de nomear e compreender a região central de Campos Elíseos/Santa Ifigênia, em São Paulo, que historicamente foi rotulada como “Cracolândia”. Esse termo, além de estigmatizar e desumanizar quem vive e circula ali, reduz uma realidade muito mais rica e complexa. Ao falarmos em fluxo, deslocamos o foco da visibilidade do consumo e do tráfico de drogas para a mobilidade cotidiana: pessoas, afeto, história e formas diversas de presença que atravessam o lugar.

Nas últimas semanas, no entanto, o fluxo está sob intenso cerco. Relatórios recentes apontam operações policiais com uso de violência e dispersão — envolvendo uso de cães, ações da Guarda Civil e identificação facial — que espantam pessoas em situação de vulnerabilidade e as obrigam a migrar para outras áreas do centro, como Bom Retiro, Marechal Deodoro e Avenida Paulista. As autoridades mentem mencionando as ações como apoio social, enquanto especialistas e ativistas do bairro afirmam que se trata de despejo forçado, parte de estratégias de higienização urbana e gentrificação que priorizam a especulação imobiliária, enquanto invisibilizam trajetórias de vida e formas de resistência

Esse site surge para tensionar as narrativas oficiais que pintam o fluxo como “problema” e insistem em apagar tanto pessoas quanto histórias. Nosso objetivo é documentar os múltiplos modos de vida presentes — projetos culturais, redes de solidariedade, disputas cotidianas e formas de produção urbana — e visibilizar aquilo que vem sendo silenciosamente sacado do centro da cidade. Aqui, o fluxo é um território em disputa, palco de conflitos estruturais, mas também de persistência, sociabilidades e criação — inclusive sob ataques e nas sombras do apagamento imposto.